“...Tenho às vezes vontade de ser novamente um
menino, e na hora do meu desespero gritar por você. Te pedir que me abrace e me
leve de volta pra casa, e me conte uma história bonita e me faça dormir...”
Calma! Esse é só um trecho da música que Roberto
Carlos fez para sua mãe, Lady Laura. E o que isso tem a ver comigo?
Absolutamente nada.
Mas, me trouxe à tona as lembranças de um passado
lindo e feliz que não volta mais. De momentos especiais que fizeram parte da
minha infância, mas que foram tão intensos: de liberdade e brincadeiras pelas
ruas da minha cidade e do meu lugar, de um tempo sem pressa e sem medo, de
pessoas confiáveis e do bem. De colegas verdadeiros e cúmplices nas travessuras
e traquinagens. Dos natais na praça com direito a parque de diversão e
quermesse organizada pela Igreja da Santa Cruz. A felicidade não cabia no peito
de tão grande que era, e tinha jeito de festa e cheiro de roupa nova e
simplicidade. Esse é um dos lados bom da vida, quando se é bem vivida. São
lembranças que ficam guardadas num cantinho especial, que só você tem o acesso
e pode se refugiar todas as vezes que a saudade apertar, ou ainda, quando se
sente ameaçado pelo novo tempo.
Lembranças de um tempo em que as escolas tinham como
foco principal o ensino, e os materiais escolares eram distribuídos
gratuitamente e ninguém ficava sem estudar por falta dele, em que a maior
preocupação era com o saber do aluno, e esse, nem sonhava existir um dia o tal
do “bullying”, pois “mangar do colega” não dava processo, o
mínimo que ocorria era ficar de castigo sem ir ao recreio e ainda, ser mandado
até a secretaria, que era o terror da época, pois implicava em dar conhecimento
aos pais ou responsáveis, do ocorrido. Como? Através do temido bilhetinho. Aí já
sabia, tinha conversinha ao chegar em casa, e na sequência, a chamada correção, ou seja, uma "surrinha" de leve... Santo remédio! "Agora faça de novo ou me deixe receber
outra reclamação!"
Era mais ou menos assim que a coisa funcionava. E os traumas? Quem são, quem viu, onde moram?
Era mais ou menos assim que a coisa funcionava. E os traumas? Quem são, quem viu, onde moram?
A escola era lugar onde se frequentava com o intuito
de aprender e estudar, e os professores eram chamados de mestres, e tinham autonomia
em sala de aula e o respeito por parte dos alunos, pois a educação, que era
função dos pais e responsáveis, não era negligenciada tampouco transferida para
ninguém. O conhecimento era estimulado e exercitado através das realizações das
chamadas feiras: “de ciência, português, literatura, história...” E a disputa
era entre os alunos com seus trabalhos e projetos, e não entre escolas, procurando
garimpar os alunos nota 10 das concorrentes, para fazer disso um pódio, um meio
de atrair possíveis clientes para o seu negócio/empresa.
No quesito saúde: Se alguém adoecia ou passasse mal,
fosse quem fosse o lugar era o mesmo para todos, e o tratamento tinha a ver com
a doença e não com o que você possuía. Há, e se por acaso não fosse possível o
deslocamento do doente até o hospital, a “ambulância” com um médico que geralmente
era um clínico geral, especialidade rara nos dias atuais, vinha à sua casa para
consultar, pois o senso de compromisso em salvar a vida, falava mais alto e era
o modelo usado nesse período. E funcionava mesmo. Sem contar das visitas periódicas
que recebíamos em casa, dos agentes da extinta “Sucam” – Superintendência de
Campanhas de Saúde Pública.
Ajudar a mulher a ter filho(a) e fazer seu parto,
era um trabalho para as parteiras de plantão, que geralmente era uma amiga,
conhecida, vizinha, comadre..., mas caso isso não fosse possível, as
maternidades as recebiam e faziam o parto sem que você tivesse que pagar “os
olhos da cara” para ter um atendimento decente e humano.
Não entenda ou me interprete mal, não estou variando
e nem é um simples devaneio ou saudosismo. Eu vivi tudo isso de verdade.
São apenas momentos de reflexão, interrogações e
tristezas também, de vê que em pleno século XXI, ao invés das coisas melhorarem
que seria o curso natural já que o mundo está globalizado e se diz tão
evoluído, o que se percebe, se parece mais é com a involução da espécie humana.
Lamentável!